A polidezÉ
também a mais pobre, a mais superficial, a mais discutível. A polidez
faz pouco caso da moral, e a moral, da polidez. Um nazista polido em que
alteraria o nazismo? Em que altera o horror? Em nada, é claro, e a
polidez está bem caracterizada por esse "nada". Virtude puramente
formal, virtude de etiqueta, virtude de aparato! A aparência, pois, de
uma virtude, e somente a aparência. Se a polidez é um
valor, o que não se pode negar, é um valor ambíguo, em si insuficiente -
pode encobrir tanto o melhor, como o pior - e, como tal, quase
suspeito. Esse trabalho sobre a forma deve ocultar alguma coisa, mas o
quê? É um artifício, e desconfiamos dos artifícios. É um enfeite, e
desconfiamos dos enfeites. Diderot evoca, em algum lugar, a "polidez
insultante" dos grandes, e também deveríamos evocar aquela, obsequiosa
ou servil, de muitos pequenos. Seriam preferíveis o desprezo sem frases e
a obediência sem mesuras. Um canalha polido não é menos
ignóbil que outro, talvez seja até mais. Por causa da hipocrisia? É
duvidoso, porque a polidez não tem pretensões morais. O canalha polido
poderia facilmente ser cínico, aliás, sem por isso faltar nem com a
polidez nem com a maldade. Mas, então, porque ele choca? Pelo contraste?
Sem dúvida. O canalha polido é o contrário de uma fera, e ninguém quer
mal às feras . É o contrário de um selvagem, e os selvagens são
desculpados. É o contrário de um bruto crasso, grosseiro, inculto, que,
decerto, é assustador, mas cuja violência nativa e bitolada pelo menos
poderia ser explicada pela incultura.André Comte-Sponvil le. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1999 (com adaptações).Julgue
os fragmentos contidos nos itens subseqüentes, quanto à manutenção do
sentido do trecho do terceiro parágrafo do texto III, indicado entre
aspas, e quanto à pontuação e à regência."É duvidoso (...) pretensões morais." : É duvidoso, talvez seja até mais ignóbil, que à polidez não tenha intenções morais!
Certo
Errado