Mal-estar civilizatório
A ausência de um Estado que
cumpra seu papel mediador das vidas humanas e dos bens a elas
relacionados vem contribuindo para o aumento, no Brasil, do que a
psicanálise chama de mal-estar civilizatório. O conceito é relativo ao
homem do mundo moderno e às angústias que ele vive. Aplica-se a uma
cultura firmada em torno dos valores da razão científica e tecnológica,
na qual inexiste a figura de um legislador central que concentre o poder
e concilie os interesses do corpo social de uma forma democrática. A
ausência dessa figura gera mal-estar ao criar um impasse permanente para
cada indivíduo/sujeito: como conciliar as aspirações próprias de prazer
e satisfação - o gozo, para a psicanálise - com os desejos dos outros?Como o Estado e o conjunto de entidades a ele ligado - os
responsáveis por essa mediação na atualidade - são incapazes de fazer
essa conciliação entre as diferentes partes da sociedade, o mal-estar se
instaura, trazendo, junto com a desigualdade, suas conseqüências: a
possessão absoluta de bens por uma pequena parcela da população e a
carência massiva da maior parte dela.A falta de mecanismos de proteção para o último grupo,
deixado ao léu pelo Estado, é, para Birman, prova de que estamos diante
de uma instituição que promove o genocídio. Esse descaso a carreta o
aumento da criminalidade, da violência e da delinqüência, não apenas nas
classes populares, mas também nas dominantes. Como exemplo, o
psicanalista aponta a corrupção que invade o meio político nos seus mais
altos níveis hierárquicos.Assim, enquanto instituições mediadoras - como as de
previdência, assistência e bem-estar social - são progressivamente
desarticuladas, " a economia vai ganhando uma espécie de autonomia".
Essa carência na população vai levando, por um lado, ao aumento da
barbárie que sustenta esse crescente grupo e, por outro, à privatização
dos sistemas de segurança para proteger as classes mais privilegiadas
dessa mesma barbárie.
Júlia Dias Carneiro. In: Ciência Hoje, vol. 30, p. 54 (com adaptações).
Com relação às idéias do texto I, julgue os itens a seguir.A autora do texto assume que a falência do modelo vigente de Estado é evidenciada pela prevalência de uma economia que, fundada na má distribuição de renda na sociedade, promove a privatização da assistência e da previdência social.
Certo
Errado